Retalhos de Aço

Construí um coração de aço
para o desiludido espantalho.
Forjei com sucata e retalho,
usinando pedaço por pedaço.
Temperando e laminando,
preparando caco por caco,
blindando osso por osso
deste peito maltrapilho.

Um coração com os calos
de todos os desprezados.
Do ferro velho, de lixões,
juntei mil molas de lata.
Mil laminas de aço e cobre
para resistir a duros golpes.
Fiz o melhor dos corações!

Um coração sem tato,
sem dor e sem olfato.
Feito para não falhar.
Nem admirar a flor
que raia nos cabelos
da que exala sonhos!
Fiz um peito vacinado
ao mais belo explendor!

Mas você ousou estragá-lo!
Seus dedos leves invadiram
uma armação rígida de ferro!
Cordões de solda quebraram,
a blindagem fugiu em pavor.
E com a tropa de aço por terra
explodiu um beijo derradeiro!
O coitado perdeu-se na guerra!
O coração enferrujou de amor!

O espantalho lançou-se embora
no meio de uma chuva de verão.
Correndo loucamente trem a fora...
Talvez volte na próxima estação...