O importante é jamais desistir de ser você mesmo.

domingo, 15 de março de 2015

Noite


Movem-se esquivos nas sombras.
Sem olheiras, sem lágrimas.
Às vezes carregados de orvalho,
às vezes cobertos por braços
e abraços que só anseiam sorrir.
Lembram crianças dançantes,
gritando e correndo para lá,
para cá, à esquerda e à direita.
Assim percorrem o infinito,
recuperam anos perdidos,
alegram-se enganando às rugas,
deixando que sangrem cicatrizes
pelo prazer pulsante de um beijo.

Vejo o céu num copo de café.
Sinto a fumaça do barro molhado.
Um pingo d' álcool para combustível
de sonhos que sonho acordado.
Ninguém quer ser passado para trás,
acelerar passos rumo à inconsciência.
Sem perder tempo, sem ser perecível,
todos uma hora cansam, descansam.
Todos, menos o tempo que, quando
já não houver o verbo haver ou passar,
ainda será o tempo da própria inexistência.
Então caçamos tempo onde não há,
pedimos mais tempo ao tempo,
pois nunca parece tempo demais.

Seus olhos perto demais,
mais do que costumo permitir.
Mas não cerro os punhos,
não travo o queixo, não rosno,
não armo qualquer contra-golpe.
São doces como jabuticabas.
Deixo que meus dedos se afoguem
na cachoeira de seus cabelos finos.
E em seus olhos busco o infinito,
busco estrelas e galáxias distantes.
Viajo sem escala pelo céu de tua boca,
desejando que a dialética seja definitiva,
que a tese viva mais que a própria vida.
Queria que seu olhar fosse poesia,
mas era apenas café.