Eu só queria escrever palavras que não ousassem se escrever. Desejei sonhos que não pudessem sonhar. Mundos que não se acabassem nas incertezas mundanas. Em busca de tudo e de nada, me deixei ir a algum lugar, saído de lugar algum. Mas, nas desoladas vias públicas, descobri, sob ruínas, que o público é algo em si ausente de si, que vias publicas são rumos perdidos de um vasto ninguém, um gigante que contempla, estupefato, a própria imagem invisível.
Finalmente sei. Ao menos um avanço neste longo percurso de tropeços tortuosos. Nunca estive perdido na imensidão. Nunca me faltou nada. Nunca perdi o chão. Finalmente sei que nunca se perde aquilo que nada tem a encontrar. A juventude não está perdida, simplesmente inexiste. Somos os caducos imaturos de um nascimento reumático. Somos a esquizofrênica lucidez tecnológica. Somos a lógica insana da sociedade solitária.
E já não adianta falar francês, tampouco interessa o inglês. As línguas não ousam falar sozinhas. O crime da harmonia prescreveu nos anais de cálculos binários! E já não resta letra sobre pedra, pedra sobre perda, erva sobre relva. Não sobrou mundo a imundo algum. Não há idioma que não grite em silêncio à vida que se foi.
Mas todo o possível está circunscrito na prescrição inscrita por escrita indecifrável. Se o tudo virou nada, se todos são ninguém, se todas as vozes berram em silêncio, se a leitura é feita às cegas... aí já são outros quinhentos.