O importante é jamais desistir de ser você mesmo.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O Salto Mortal das Pétalas Abandonadas










No entremente vazio da entrada,
o transpor desta porta entreaberta
origina uma imanente descoberta
e não transcende a mente maculada.
No interlúdio entre o fascínio lúdico
e o epílogo de um prosador lunático,
negamos a instituinte modernidade
para lançar naquele último instante,
sepulto na vergonha da imortalidade,
uma ignóbil ideia de sabor itinerante.

Entretanto, entramos em devaneios.
Olhos cerrados adentrando o cercado
traçado passo a passo pelos passeios
de um velho e já extinto condenado.
Não são os campos cobertos por lírios,
o eco não nasce de um canto silvestre.
O silêncio morre no calor dos lábios
deste tão frágil e inculto desordenado
à sete palmos de esperança terrestre.

Aqui dentro, desejaria estar fora.
Se é casa, não tem o teto e o nada.
Se é pátria, falta o povo e a terra.
Se é amor, a traição nos liberta.
Enquanto de fora tudo parecia ser fim,
coordenado por uma ordem comum
cujo o meio é o termo de um início,
a verdade é ser sempre um ínterim
da mesma e densa hora ad infinitum
onde toda a festa tem gosto de suplício.

Quem sabe se amanhã não me canso
e resolvo chamar o mundo para sair?


Imagem: http://acontecimentoshistorico.blogspot.com.br/2013/01/o-holocausto.html?m=1

domingo, 18 de setembro de 2016

Reflexões Sobre o Fim do Mundo










Eu só queria escrever palavras que não ousassem se escrever. Desejei sonhos que não pudessem sonhar. Mundos que não se acabassem nas incertezas mundanas. Em busca de tudo e de nada, me deixei ir a algum lugar, saído de lugar algum. Mas, nas desoladas vias públicas, descobri, sob ruínas, que o público é algo em si ausente de si, que vias publicas são rumos perdidos de um vasto ninguém, um gigante que contempla, estupefato, a própria imagem invisível.

Finalmente sei. Ao menos um avanço neste longo percurso de tropeços tortuosos. Nunca estive perdido na imensidão. Nunca me faltou nada. Nunca perdi o chão. Finalmente sei que nunca se perde aquilo que nada tem a encontrar. A juventude não está perdida, simplesmente inexiste. Somos os caducos imaturos de um nascimento reumático. Somos a esquizofrênica lucidez tecnológica. Somos a lógica insana da sociedade solitária.

E já não adianta falar francês, tampouco interessa o inglês. As línguas não ousam falar sozinhas. O crime da harmonia prescreveu nos anais de cálculos binários! E já não resta letra sobre pedra, pedra sobre perda, erva sobre relva. Não sobrou mundo a imundo algum. Não há idioma que não grite em silêncio à vida que se foi.

Mas todo o possível está circunscrito na prescrição inscrita por escrita indecifrável. Se o tudo virou nada, se todos são ninguém, se todas as vozes berram em silêncio, se a leitura é feita às cegas... aí já são outros quinhentos.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Regressos E Silêncios




















Gritos de um silêncio febril
rompem a noite sem sonhos.
Picos dotados de desencantos
no retorno ao inglório Abril.
Como quem volta do nada
sem direção ou amanhã,
abro a porta trêmula e incerta.

Voltei sem ter porquê,
sem querer e sem saber.
Voltei sem nem sair,
nem mesmo sei chegar.
Ou se cheguei, se fiquei.
Voltei para e por você.
Cheguei por ninguém.