O importante é jamais desistir de ser você mesmo.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Artigo - À Robotização

Hoje vi que vivemos num mundo de ficção científica. Entretanto, ao que parece, a realidade superou em vezes a ficção, e creio não mentir ao dizer que nosso mundo assustaria até mesmo Huxley ou Orwell, criadores das fantasias futuristas mais tenebrosas da história. Pois, apesar de preverem a exclusão de sentimentos, ou mesmo a falta de privacidade, jamais imaginaram que o humano seria, literalmente, robotizado.
Tudo começou com uma mensagem do Whats App. Duas fotos de uma moça com a perna praticamente necrosada. Imaginei que se tratasse de complicações com a tatuagem, porém, quando mostrei ao meu colega de trabalho, ele exclamou:
"É a Andressa Urach!"
Fiquei um tempo encarando-o, até que tomei coragem para assumir minha ignorância e perguntei quem era essa tal de Urach (apesar de parecer estranho, nunca fui muito ligado em televisão desde que comecei a ler, mais a falta de tempo e o fato de que joguei meu aparelho fora, acabo por não acompanhar as notícias por este meio). Me falou sobre o caso do hidrogel, a vice Miss Bumbum, A Fazenda, e algumas outras coisas que tratei de esquecer. Não pesquisei no Google (como costumo fazer quando algo me intriga), nem no Wikipédia, nem em lugar nenhum. Deixei pra lá.
Hoje de manhã, após acessar meu e-mail, fui ver as notícias do MSN, e lá estava ela novamente. Dessa vez, já que a notícia correu atrás de mim, resolvi averiguar.
Não vou aqui falar sobre o uso do hidrogel, até porque não sou um especialista adequado para isso e meus conhecimentos químicos são parcos. O que me interessa, e me assusta, é a conjuntura social que levou a esta situação. E ela é a seguinte: vivemos um momento de robotização assustador, no qual trocamos e modificamos partes de nossos corpos como se fossem elementos de máquinas! Mesmo as fotos dela "saudável" são sugestivas e questionáveis: suas coxas pareciam ter amortecedores automotivos, de tão grossas e artificiais; seios semelhantes a air bags; as pernas brilhavam como se fossem de aço! Em resumo, um robô costurado com pedaços de plástico e sabe-se lá mais o que!
Mas, antes que me julguem inadvertidamente, adianto não a considero culpada, antes a defino como vítima de uma cultura doente baseada no consumo de aparências. Afinal, não é ela a única, tampouco será a ultima. Basta ver as meninas do Pânico: quando chegam, são, apesar de bonitas, normais e naturais, um tipo de beleza que pode ser encontrada nas ruas; porém, bastam alguns meses, e elas incham, marombam, endurecem de uma forma quase inacreditável. As perguntas são: como chegam a estes resultados tão rápido? Serão só exercícios? E as consequências no futuro?
O pior de tudo é que elas são peças do principal meio formador de opinião dos nossos tempos. A idolatria a estas "bonecas de retalhos vivas" gera inconformidade e inveja por parte daquelas pertencentes à massa. A mulher já não se conforma em ter celulite, revolta-se com o fato dos exercícios não terem o rendimento esperado (pois baseiam-se nestas fabricações artificiais que, se não é por meio de anabolizantes, desenham seus corpos em mesas de cirurgias), em suma, revoltam-se contra si mesmas. E eis que surge a solução divina: charlatões com diplomas médicos duvidosos que parcelam até doze vezes cirurgias plásticas, por um preço bem mais "barato" que aqueles de consultórios consagrados.
Entretanto o pior de toda esta fatalidade é que ela passará por um caso isolado. Culparão o médico por negligência, a menina (se sobreviver, que é o que espero) dará entrevistas sobre seu período de recuperação, sobre o apoio dos familiares, renderá muito dinheiro com propaganda aos canais de televisão (pois alcançarão altos índices de telespectadores) e, caso opte por não mais recorrer à mesas cirúrgicas... provavelmente sumirá! Provavelmente sumirá porque ficou mutilada, já não servindo mais a estes estranhos padrões de beleza que prezam mais o "parecer saudável" do que o "ser saudável"! Provavelmente sumirá porque não lhe terão confiança para programas mais sérios! E provavelmente sumirá pelo bem desta cultura de açougues humanos, pois é mais fácil (e barato) tirar uma mulher do que reformular todas as outras que eles criaram e elegeram como "exemplos a seguir".
E para que não acusem meu alarde de "achismo" ou "falácia", sugiro que vejam os últimos dados relativos a cirurgias plásticas. O UOL Notícias, em um artigo de 27/07/2014, mostrou que, em 2013, foram realizadas 1,49 milhão de intervenções cirúrgicas deste gênero, 12% de todas a cirurgias plásticas realizadas no mundo inteiro. Ainda não foram divulgadas as estatísticas de 2014, entretanto não estranharia um aumento em relação a 2013, pois, apesar dos índices de desemprego e a crise no setor industrial, o ramo estético tem como base outras necessidades, tendo seus períodos mais lucrativos diretamente relacionados a festas sociais (como o Carnaval), e em períodos de férias. Então imagine quantas pessoas não correram aos cirurgiões plásticos às vésperas da Copa do Mundo?
Por fim, gostaria que pensassem sobre este acontecimento não como um acidente, mais como um alerta sobre o que estamos consumindo e no que estamos nos tornando, ou chegará um dia no qual teremos de trocar em postos de combustível o óleo que percorrerá nossas veias, não por saúde, e sim por pura artificialidade. Estejam felizes com quem são, minhas queridas brasileiras, pois já são, sem dúvida alguma, as mais belas mulheres do planeta (não existe no mundo mulher mais bela que vocês, nossa mistura é única e invejada por todos). Ficarão velhas, terão celulite? Sim! Mas o que importa? Se quiserem, façam exercícios para retardar o envelhecimento. Mas não corram atrás destas fórmulas "milagrosas". E à Andressa Urach e tantas outras Urachs que circulam por aí, só me resta desejar boa sorte e melhoras.

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