O importante é jamais desistir de ser você mesmo.

domingo, 24 de novembro de 2019

Alforria








Só se pode entender a liberdade
ao conceber-se a existência da prisão.
O estigma escarlate corrói a pele,
traçado sobre a negra imensidão.
São miseráveis fugidios, cansados,
insones esgueirando-se no bosque,
comendo a terra e o asfalto da manhã
na busca de alguma divina solução.

Só se vislumbra um ponto branco
quando este marca o pano preto.
A exclusão só é algo possível
na seleção como regra plausível.
Falta espaço onde sobram almas.
Carece de física o delírio corporal
na imagética da palavra invisível.

Só sente verdadeiramente a paz
aqueles que ousaram a guerra.
A vida é risível ao que morre.
O rumo é sentido ao que corre.
Uma verdade que jamais erra
é a mentira de quem não faz!

Por mais que se negue, está na pele,
está no rosto de quem devora a fome!
A privatização de dores inaudíveis
das quais não se sabe a explicação.
Está na culpa de quem se senta,
um cansado viajante sem bússola
que, parando de senzala em senzala,
reencarna nos trilhos das estrelas!

Só conseguiu fugir da senzala
aquele que saltou no abismo.
Antes coisificado, agora um conjunto
de significados à base de codificação.
Hoje, quando o tempo é patológico,
a tristeza é uma opção psicótica.
Grilhões enferrujados nos habitam.
Fugir de si, ou fugir para si?
Eis a mais difícil indagação! 

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