De Passagem

Queria que tudo mudasse
quando as rodas parassem
e as portas se abrissem.
Que tudo fosse diferente
quando tocasse o chão.
Queria que houvesse chão,
terra e lama para pés descalços.

Queria que tudo mudasse,
que existisse mudança.
Queria me mudar
e que tudo me mudasse,
tornando-me aquilo que preciso,
aquilo que permitem e
aquilo que simplesmente posso.

Queria mudar de mundo
e vertê-lo num lúgubre arco-íris
no qual minhas asas de cera
pudessem planar livres
como pipas sem eira nem beira.
Queria o mundo cheio de pipas,
um céu cheio de cores dançando
nos ventos da beira do mar.

Que a tristeza fosse saudade,
que a solidão ganhasse abraços.
Queria ver sorrisos sem dentes
com o verídico anseio de sorrir.
Queria ver a ousadia nascer
naqueles que mais precisam,
naqueles que menos podem
por tanto e sempre esperar.

Queria que tudo mudasse.
E mudou
de endereço.