Tulipas Oxidantes

Sempre quis uma poesia leve,
dessas que roubam tulipas
e lançam suas pétalas ao sol
para que se desfaçam no ar.

Queria uma poesia solúvel,
uma que se dissolvesse
na fluidez de muito amar.
Mas não me brotam tulipas
que se deixem furtar.

Não há água nesta garoa,
nem amor que queria amar.
E a casa não é uma casa,
não é teto e nem é lar.

Esta família passa por nada.
Colinas são longos prédios
temendo o dia de desmoronar.
Os anos foram somente pingados
azedos, cansados, frios e diários.

E esta poesia, apenas uma caixa
de ferramentas velhas pelo uso.
Largada entre postes e arbustos,
adormecida na mais tola esperança
que um dia me roubem de mim.