domingo, 31 de dezembro de 2017

Esperando o Final Feliz do Filme Chamado "Lágrimas"





















Amarrando os sapatos de bêbados
que assombram a rua amarelada,
tento desfazer o grande nó da vida.
Em algum reino distante do céu
alguém fixou atentamente o olhar
esperando o sentimento de queda;
amargando a punição de mero réu;
aguardando um ônibus não passar
após mil e uma manhãs de sábados.

Nas telas, grandes sorrisos invencíveis
não impedem a janela de chorar.
Os restos no fundo do copo de café,
como a esperança que não pôde correr,
ficam para aqueles que não lembram
do amargo de sonhos insonháveis
que sobrevoaram além das estrelas,
muito abaixo dos ladrilhos de terra,
e caíram, após percorrer a Paulista,
na mais baixa e suja das esquinas
de bueiros do lado alto da Augusta.

Acho, mas apenas acho,
que espero o fim do mundo
após a tempestade de rojões.
Escrever nestes arranha-céus
o epitáfio da longa embriaguez
pela qual se movem multidões.
O derradeiro sorriso zombeteiro
que marca data e agenda horário
para que se faça um simulacro feliz.

Mas acho que não achei,
se é que há algo para achar
nessas gotas que cobrem
os vidros de janelas imundas
com as quais muitos veem
um mundo sujo e nublado.

Ao amarrar esse cadarço
que, de fato, nunca foi meu,
não pertenço ao fim do inferno
e nem me ergo às portas do céu.
Permito apenas que andem
os fantasmas dos retalhos
daquilo que sou, fui e serei.
Sigo o meu caminho sem rumo,
olhando atentamente para cima,
enquanto espero o corpo cair.

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