sábado, 25 de abril de 2020
Quando Não Há Um Amanhã
Quando já não houver um amanhã
e o tempo, caído sob os meus pés
com um triste olhar vítreo e calado,
der o suspiro derradeiro de esperança,
o quê ainda haverá para esquecer
além daquilo que jamais foi lembrado?
Quando já não houver um amanhã,
e o céu, caindo sob os sujos pés
de nuvens nubladas e insensíveis,
galgar a manhã como se fosse a última,
o quê ainda haverá para lembrar
além daquilo que jamais foi vivo?
E quando já não houver um amanhã
e o corpo, perdido nos pés descalços
de ladrilhos e cascalhos invisíveis,
cavar o passeio público de um sábado,
o quê ainda haverá para se reviver
destes tempos que nunca passaram?
Quando já não houver um amanhã
e a pálpebra, trêmula como a cortina
de uma peça teatral mal ensaiada
se fechando temerosa sob as vaias,
cerrar-se numa clausura sinistra,
qual filme ainda haverá de passar
desta crônica mentira canônica?
E quando já não houver um amanhã,
o que será daquele que nunca foi ontem?
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